uma nuvem ou um berro qualquer

acordo 
e não levanto 
deixo o sol chegar nos olhos para só então abrir 
antes disso fumo dois cigarros errando a mira do cinzeiro 
depois o sol corre rápido 
desce em instantes 
não me preocupo mais com os vizinhos 
nos tornamos cúmplices 
silêncio: o passarinho comendo. 
todo dia nesse quando 
tenho vontade de ser graveto 
flutuando fresco por correnteza de rio 
quando o sol já percorreu os pés 
a lembrança remota que tentava reconstruir escapa 
dos sonhos ficam uma ou duas cores e os ácaros 
basta uma nuvem qualquer ou berro de criança 
pra que me lembre: 
não vivo nem antes nem depois 
de tudo que imagino 
não sou pássaro, cama ou graveto 
boceta tomando vento 
obra audiovisual homônima comissionada por Aymbere Art para Festival Sonora / São Carlos (SP), 2021