finalmente sonhei que morri / 2018 
fantasmas já banidos entraram, sem pedir licença, pra tomar um chá aqui comigo. e não é que ficaram? 
quando vi, eu ja lhes servia panquecas de manhã e me dedicava a temperar elaborados cozidos pras grandes refeições... 
hoje 
finalmente sonhei que morri 
encarcerada literalmente numa prisão de paredões verticais de água azul muito escura 
tinham muitas, muitas mulheres lá também 
eu escolhia, então, passar o ano novo presa porque havia essa condição 
só assim eu morreria e poderia nascer minha irmã (que já era muito esperada) 
eu queria minha irmã mas 
hesitava em aceitar o "acordo" sem a garantia que ela nascesse de fato ou que ela se lembrasse de quem ela já tinha sido de como e por que ela nasceu 
minha única preocupação não era física, era ter a certeza de que seus pensamentos continuariam como a voz que ouço daqui de dentro entrei num dos paredões de água muito escura 
finalmente, hoje 
eu sonhei que morri 
feliz ano novo 
13 obra audiovisual “Sonhos do bom abismo” selecionada para o Festival de Curtas Experimentais de São Luís do Paraitinga (SP), 2019 e em exibição pela galeria Art Veine (Portugal), 2021