

Em um dos meus poemas digo: “se tu me dá um mapa, eu não chego nunca” [Ovelha, 2018] - foi dum dia que me perdi caminhando no bairro em que estudei toda a vida e em que mora minha mãe; me dei muito mal nas aulas de geografia até chegar na parte do papel vegetal sobre os mapas políticos do país. É desde lá que guardo cadernos y folhas soltas de impressões e tentativas de assimilar as imagens que persigo e/ou me perseguem, tenho coisa de sonho anotado aos sete anos de idade. É inevitável as aproximações do escrever sobre si [Foucault e não] e a proposição da cartografia como método e ao reencontrar e reposicionar na mesa essas anotações/diários/rascunhos de mim, tenho a oportunidade de traçar essa incerta cartografia sobre os temas que inundam minha produção, certamente autobiográfica.
De certo que as autobiografias, mitigadas pela busca equivocada da autenticidade que ainda credita e descredita o sistema das artes, perderam seu privilegiado território de revelação para se realocarem como território de omissão: de tudo aquilo que, por não chegar jamais a ser dito ou sequer lembrado, constituí enfim a essência primeira do relato. O elogio ao esquecimento que me proponho agora, na retomada de meus estudos, parte da observação de meus próprios cadernos e acaba por emergir de minha pesquisa um mesmo desejo descritivo e analítico (presente nos poemas, e talvez motriz de minha poética) sem nenhuma pretensão cientifica acerca de aproximações sempre com o corpo (material), essa busca indefinida da autorrepresentação reflexiva (das entranhas y estranhas) em contraposição ao conceito de documento (dos mapas e catálogos - que busco como cachorro que morde o próprio rabo lá pela lua em casa de capricórnio) que vejo explícitos em meus cadernos colecionados. Uma investigação compromissada com as aproximações e demais operações que contaminam vida privada y publica (um tema inegociável para a arte feminista desde os anos 60), entre o corpo sutil e o materialxrealxvirtual y minha postura ressabiada quanto ao tal “surrealismo” presente em meu trabalho.
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Fecunda. Coleção: Elogio ao esquecimento, 2020.
De certo que as autobiografias, mitigadas pela busca equivocada da autenticidade que ainda credita e descredita o sistema das artes, perderam seu privilegiado território de revelação para se realocarem como território de omissão: de tudo aquilo que, por não chegar jamais a ser dito ou sequer lembrado, constituí enfim a essência primeira do relato. O elogio ao esquecimento que me proponho agora, na retomada de meus estudos, parte da observação de meus próprios cadernos e acaba por emergir de minha pesquisa um mesmo desejo descritivo e analítico (presente nos poemas, e talvez motriz de minha poética) sem nenhuma pretensão cientifica acerca de aproximações sempre com o corpo (material), essa busca indefinida da autorrepresentação reflexiva (das entranhas y estranhas) em contraposição ao conceito de documento (dos mapas e catálogos - que busco como cachorro que morde o próprio rabo lá pela lua em casa de capricórnio) que vejo explícitos em meus cadernos colecionados. Uma investigação compromissada com as aproximações e demais operações que contaminam vida privada y publica (um tema inegociável para a arte feminista desde os anos 60), entre o corpo sutil e o materialxrealxvirtual y minha postura ressabiada quanto ao tal “surrealismo” presente em meu trabalho.
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Fecunda. Coleção: Elogio ao esquecimento, 2020.