água sobre os pedaços de açúcar / 2019 
noutra lua, falei do cheiro de pote de mel bem debaixo da minha saia; até enjoa. lembro das várias bisbilhoteiras que nos sussurram pelas ventas. o gosto vulcânico de desapontar os dedos e fechá-los ao punho. 
deixar sujar as barras desfiadas. 
a padroeira das ovelhas desobedientes bem disse: "uma coisa boa e velha esparramada pelo chão"… um pulo pra dentro da taça de vinho do padre. uma rede de pesca toda bordada a mão com peixes de prata, 
pela família de clara. uma bacia, um jarro de barro no fundo da areia e mulheres que respiram debaixo de todo líquido. o sol que entra pelos escombros, a origem do mundo que nunca o conheceu. com o fim da justiça dos homens encontrei na cama meu amor chorando. muitos sumiços nos anos em terra: não tenho mais questões com a morte; sou mais das que não sabe lidar muito bem é com a vida. 
alice sempre esteve certa e a cada dia que passa me lembro que a chave ficou em cima da mesa. minha barriga em chamas (e tenho pensando muito nas barrigas), meus olhos fundos e aquele vidrinho de paciência — que era pra verter no pulso e eu tomei. 
se tu me dá um mapa eu não chego nunca. 
4 publicado na edição n°1 da revista Poça - Pelotas (RS), 2019 e revista A palavra solta - Rio de Janeiro (RJ), 2021.