a mulher cama
ou quebra-louças / 2019
sou uma casa
em que nunca morou alguém
se desintegraram antes que pudessem vagar pelos corredores
assumo as mortes necessárias
em plena luz do dia
para acordar no dia seguinte.
meu corpo todo
um abalo
rasgo a terra
faz de conta que sou amada
e que amo de volta
um cavalo inteiro
e uma casa que nunca morou ninguém
sob suas crinas
faz de conta que amo
e me amam de volta
sou uma casa
em que tem sempre alguém
lustrando talheres de prata
faz de conta que sou cavalo
minha crina, áspera
se não serve ao arco de teu violino
que lhe corte a garganta.
uma fatalidade.
8interpretação poética do mito indonésio “Sundel Bolong” publicado por org. Medéia (tradução para inglês) / Londres, 2020